Bem, hoje o post é diferente, andei lendo e encontrei essa crítica à um canal da tv aberta que durante meus 13-16 anos eu costumava assistir ( por ser um canal além de alternativo, ser também informativo e inteligente.) e hoje é uma pena que ele tenha deixado de lado tanta coisa .Perdeu sua identidade no emaranhado mundo dos ibopes.
MTVirgem Maria!
Eu pensava que Gordo Freak Show era o auge. Mas se uma porcaria caiu, subiram outras. O programa no qual o presentador mandava o telespectador desligar a TV e assumia o lixo que trazia pras casas brasileiras - entre vários palavrões - foi só o começo pra MTV. Ok, a pós-modernidade pediu: "depois dos reality shows, como podemos denegrir ainda mais os outros?" Mas a gente não merecia.Já aturávamos o sexista e preconceituoso Neura MTV. Cazé humilhando as mulheres como pode e Marina não conseguindo ser feminina sem soar como uma Barbie. Em geral, quando ela abre a boca, eu fico com vergonha. Pior é quando Cicarelli comenta alguma coisa em Batalha de Modelos (onda as belas moças ficam em situações patéticas) ou Beija Sapo (onde praticamente todos do estúdio ficam em situações patéticas).
Mas nenhum destes se compara, em termos de preconceito e sexismo estratosféricos, ao Mucho Macho. Por estudar o assunto, eu me convenci a assistir dois programas para poder julgar. O que é aquilo, minha gente? Alguém pode me explicar onde neste mundo ver um convidado lambendo um suposto clitóris gigante e dizendo que já "comeu" algumas "vacas - sem ser o bicho!" - é entretenimento? E as "gostosas"? Exploram-nas como podem para confirmar o estereótipo de "loiras burras" e as coitadas não têm nem como se defender. Os "homens" do programa são altamente ofensivos e denigrem não só a imagem delas, como das mulheres em geral. A campanha "faça uma 'baranga' feliz" é o cúmulo! O quanto as pessoas precisam se humilhar para consquistar 15 segundos de fama? Está passando dos limites, isso eu posso dizer.
Acho que é óbvio, mas vou explicar que estes programas podem influenciar negativamente a formação dos adolescentes (público-alvo da programação da MTV), já que a lei supõe que menores de idade não têm seus valores totalmente construídos. Se um adulto assiste ao programa que tem uma bunda se abrindo na abertura e ri porque Marcos Mion humilha duas loiras, vá lá. Mas alguém que está construindo valores ainda tem direito e a chance de não ser igual.
Quem der uma olhada no Estatuto da Criança e do Adolescente ou na Constituição Federal vai notar que este programa (assim como o Gordo Freak Show) descumpre a lei. E eu nem preciso de apoio legal pra colocá-lo na berlinda. A mídia em geral não entende que o direito à liberdade de expressão que nos é assegurado tem o intuito de nos fazer melhores enquanto pessoas e cidadãos. Não de deturpar valores e humilhar os outros a troco de dinheiro e poder. Tudo no meio "televisão" é tão efêmero, passa tão rápido, que parece uma bobagem. Mas cada uma dessas porcarias está no nosso cotidiano, transformando nossas vidas com muito mais impacto do que parece.
A própria MTV, exibindo uma vinheta quanto à classificação indicativa, diz o seguinte: "a televisão brasileira (…) já colocou diversas porcarias no ar, isso por que alguns profissionais são capazes de qualquer coisa na luta pela audiência". Outra grande hipocrisia da emissora é aquela vinheta que aparecia, não raro, por alguns minutos, onde se lia: "Desligue a TV e vá ler um livro". Se a MTV produzisse conteúdos de qualidade, essa "dica" não seria necessária. Eles sabem que produzem lixo, mas simplesmente continuam produzindo!
Vocês podem até achar que só assim se garante a audiência, mas isto é um equívoco. Programas inteligentes também dão audiência. O "Programa Legal", por exemplo, era feito para jovens, discutia assuntos sem sensacionalismos, tinha bandas ao vivo e dava tanta audiência que incomodou a Globo. Por falar em bandas, lembram quando música era o único assunto da Music Television Brasil? Pois é, já faz tempo.
Quem assistia à MTV no começo e meados dos anos 90 nunca imaginaria que ela chegaria a isso, mas é fato: ela está seguindo a tendência mundial, priorizando a "abundância corporal" à "competência cultural", o "estúpido" ao "inteligente", o "medíocre" ao "extraordinário". E a gente vai junto, mesmo sem querer, na onda. Que essa também morra na praia.
Por Sofia Egito 9 Apr, 2007.
Esse texto foi retirado do site:
http://www.reciferock.com.br/site/2007/04/09/mtvirgem-maria/